domingo, 17 de junho de 2012

Urinoterapia: Uma Alternativa Simples


A Urinoterapia é uma técnica terapêutica que consiste na ingestão de urina ou em sua aplicação na pele por meio de compressas, fricção ou banhos de imersão. Embora a maioria dos ocidentais habituados à medicina moderna resista a ela, é uma técnica muito antiga, de eficiência comprovada por diferentes povos através dos tempos. Era utilizada na Índia, Tibete, Egito, Grécia Antiga e nas civilizações Inca, Maia e Asteca. Há registro de sua utilização até mesmo na medicina ortodoxa do Ocidente e não faz tanto tempo assim: em 1841, o Dr. Dioscorides publicou na Inglaterra o livro "O Tesouro Inglês", em que prescrevia urina para lavar feridas. No século dezoito, os dentistas de Paris usavam urina para limpar os dentes.

Durante a Idade Média era comum, na Europa, beber a própria urina como proteção contra a peste. Ainda hoje, os povos como o da Nicarágua, o da Arábia e o do Alasca utilizam urina para sanar males físicos. Até no Nordeste do Brasil e em muitas outras regiões, em áreas onde há falta de recursos médicos, a tradição popular recomenda a aplicação da urina de crianças para doenças de pele, urticárias e queimaduras por veneno de animais, como taturanas e águas-vivas.

Embora milenar e mundialmente difundida, a Urinoterapia foi desaparecendo à medida que a ciência e a tecnologia se desenvolviam. Isso talvez se explique pela grande pressão da indústria farmacêutica sobre a clínica médica e pesquisas científicas. Tratamentos naturais, na maioria das vezes considerados supertições, raramente são incluídos nos currículos das faculdades de medicina.

Não se deveria manter na sombra uma forma terapêutica que pode ser tão preciosa. Talvez seja uma terapia para casos extremos, mas já há pessoas - e haverá cada vez mais - que se encontram em situações agudas de sofrimento físico e psíquico, sem acesso a tratamentos tradicionais, quase sempre por falta de recursos. Em tais casos, a própria necessidade indicaria esse método terapêutico.

Além disso, beber urina significa quebrar condicionamentos arraigados. Somente ao se desligarem um pouco da atmosfera mental coletiva é que conseguem realizar tal ato. Para elas esse desligamento, por si só, já é profundamente curador.

Reencontro com a Urinoterapia

A situação crítica da saúde humana, a escassez de recursos materiais e as dificuldades da medicina moderna para solucionar os problemas que lhe são apresentados, pressionam hoje a população a encontrar formas simples, baratas e efetivas de tratamento.

Sabe-se que existem atualmente cerca de doze mil espécies de medicamentos alopáticos no mundo, e eles nem sempre resolvem o problema da saúde, cada vez mais agudo.

O uso abusivo de medicamentos artificiais enfraquece o organismo em geral e pode acabar levando-o à deficiência imunológica, o que, por sua vez, gera dependência a medicamentos cada vez mais fortes. Cresce o número de enfermidades incontroláveis e daquelas que a ciência não consegue explicar. Além disso, a vida urbana intoxica o organismo humano, muitas vezes com produtos de difícil eliminação.

Dentro desse contexto, voltamos a perceber que o corpo funciona como grande produtor farmacêutico, um laboratório de analgésicos, antibióticos, substâncias que reorganizam o sistema imunológico e até mesmo de certos hormônios que podem curar ou prevenir enfermidades.

A urina é um medicamento natural que nosso laboratório biológico inteligentemente produz, capaz de reequilibrar o organismo, estimulando suas funções de eliminação e defesa e devolvendo-lhe a vitalidade perdida.

O Que É a Urina

A urina é formada nos rins, por meio de uma filtragem laboriosa do sangue. Antes de ser filtrado pelos rins, o sangue passa pelo fígado, que lhe extrai as toxinas e as descarta por meio da bile, jogada no intestino. A função dos rins é a de manter o equilíbrio das substâncias no sangue e controlar a quantidade de água no corpo, e não, como usualmente se acredita, a de eliminar toxinas - trabalho executado pelo fígado. A urina, portanto, é um produto puro do sangue e não um amontoado de elementos tóxicos; ela não é um dejeto como as fezes.

Nos tubos urinários, 99% do líquido filtrado pelos rins é reabsorvido e volta a circular no sangue; só 1% desse líquido, mais ou menos um litro e meio, é diariamente excretado pelos rins, armazenado na bexiga e expelido como urina.

Apesar de sua composição química depender dos alimentos ingeridos, pode-se dizer que a urina é constituída de 96% de água e 4% de elementos orgânicos e inorgânicos. São eles:

1. Compostos inorgânicos: cloreto de sódio e outros sais de cloro, sais de enxofre; fósforo, sódio, potássio, cálcio, magnésio, cobre, flúor, iodo, ferro, zinco, ácido fosfórico e ácido sulfúrico.

2. Alguns dos compostos orgânicos: uréia, creatinina, amônia, ácido úrico, albumina e outras proteínas, além de 21 espécies de aminoácidos, aminas e ácidos orgânicos.

3. Hidratos de carbono: cetoácidos, ácido lático e ácido úrico.

4. Vitaminas: A, B, C, E, entre outras, e ácido pantotênico.

5. Hormônios: hipofisários, sexuais, prostaglandinas, ADH (hormônio antidiurético), entre outros.
Muitas substâncias empregadas em tratamentos são extraídas da urina: a alantoína, que ajuda na cicatrização de feridas e é ótimo anti-rugas; as globulinas, em especial as imunoglobulinas, que são anticorpos; a uréia, responsável pela capacidade bactericida da urina e pela ação inibidora do bacilo da tuberculose; a uroquinase, enzima vasodilatadora, que ajuda a evitar tromboses; o 3-metilglioxal, que destrói células cancerosas.

Quando o corpo está intoxicado, os rins não conseguem trabalhar com eficiência e deixam ir embora muitas substâncias necessárias. Ao se praticar a Urinoterapia, esses elementos vitais são repostos. Beber a própria urina, portanto, não é arriscado como muitos acreditam. Na verdade, a Urinoterapia não tem contra-indicações, nem mesmo se a pessoa está com infecção urinaria. A urina não é veneno essa idéia é um equívoco de sociedades industrializadas que perderam contato com a sabedoria da natureza

Texto retirado do livro "URINOTERAPIA: UMA ALTERNATIVA SIMPLES PARA TRATAMENTOS DE SAÚDE" - organizado por Denise Gontijo Machado, Editora Irdin, 1999.

Urinoterapia: Uma Prática Fisiológica?

URINOTERAPIA: UMA PRÁTICA FISIOLÓGICA?

A prática secular da urinoterapia ressurge entre a população moderna com o aparecimento de diversos livros, organizações e sites na Internet sobre o assunto. Mas do ponto de vista científico pouco se tem visto. Esse ensaio visa, de forma bem modesta, ser um início.

Ao se ingerir a própria urina não há como não se perguntar se não iria nos fazer mal algo que o próprio corpo já está se encarregando de eliminar? E as substâncias 'tóxicas', no caso, os 'produtos de excreção do nitrogênio', tais como uréia, ácido úrico e amônia? Porque reintroduzí-los no organismo? Seriam passíveis de reaproveitamento? Essas linhas que se seguem pretendem nos introduzir nessas questões. Ao contrário do que se supunha há alguns anos, hoje, sabe-se que, com a ajuda da microflora intestinal, podemos reciclar esse nitrogênio.

REAPROVEITAMENTO DO NITROGÊNIO INORGÂNICO DA URINA

O Ciclo do Nitrogênio Não-Protéico no Intestino

Durante o processo de digestão das proteínas da dieta, o movimento do nitrogênio é dos intestinos para dentro do organismo. Mas há também um movimento simultâneo de substâncias nitrogenadas para dentro da luz intestinal. Estas provêm de variadas fontes: saliva, suco pancreático, bile, restos celulares, secreção de uréia transluminal, leite materno ou, na presente questão, da urina ingerida.

A maior parte do nitrogênio não protéico secretado dentro do trato digestivo é digerido e reabsorvido, e apenas uma pequena parte deste nitrogênio é perdido nas fezes. Entretanto, muito do que é reciclado o é numa forma diversa da qual entrou, graças a ação da microbiota intestinal, que possuindo enzimas que seus hospedeiros não possuem, transformam esses substratos nitrogenados não protéicos em formas assimiláveis por nós.

Através da utilização da amônia - produto da quebra da uréia pelas ureases bacterianas - esse N antes não disponível passa então a ser utilizado para síntese protéica endógena ou síntese de proteínas microbianas, fornecendo assim aminoácidos essenciais produzidos pela própria flora intestinal.

Introdução

Os organismos vivos diferem consideravelmente na sua habilidade em sintetizar os 20 diferentes aminoácidos. Eles também diferem a respeito das formas de nitrogênio utilizadas como precursores dos aminoácidos. Os seres humanos, por exemplo, podem sintetizar apenas 10 dos 20 aminoácidos fundamentais para a biossíntese das proteínas. Os microorganismos diferem amplamente na sua capacidade de sintetizar aminoácidos. As enterobacteriaceae, na sua maioria, excetuando os Lactobacillus, são capazes de sintetizar todos os 20 aminoácidos necessários para a síntese das proteínas a partir de precursores simples1. A uréia, por exemplo, pequena molécula com 2 átomos de nitrogênio, que é o nosso produto de excreção principal, não pode ser por nós reutilizada diretamente, pois nos falta a enzima urease que a quebra em duas moléculas de amônia, esta sim para nós utilíssima. Os 10 aminoácidos que são chamados de aminoácidos não-essenciais ou dispensáveis, são sintetizados por nós a partir da amônia e de várias fontes de carbono. Os outros 10 que são chamados de aminoácidos essenciais ou indispensáveis podem ser obtidos a partir da dieta ou, como se sabe agora, podem também ser obtidos por nós a partir da síntese microbiana de aminoácidos que, nos nossos intestinos, sintetizam todos os 20 aminoácidos.

Uréia e amônia: reciclando o nitrogênio

A uréia é o componente final do catabolismo nitrogenado dos mamíferos e a substância nitrogenada não-protéica de maior concentração nas secreções digestivas,2 leite materno3 e urina4. Não pode ser metabolizada pelos macroorganismos a não ser através dos processos metabólicos dos microorganismos que contêm urease,5 que hidroliza a uréia liberando amônia, de acordo com a reação: CO(NH2)2 + H2O ® 2NH3 + CO2.

A amônia (NH3) liberada pela urease bacteriana,6 captada pela veia porta, fornece então o N para a síntese endógena de aminoácidos dispensáveis (ou não-essenciais), principalmente via síntese hepática de glutamina e glutamato.7

Produção endógena de aminoácidos com N reciclado da amônia

Sabe-se, há muito que, em pessoas com ingestão protéica adequada, ≈ 60-70% da uréia produzida pelo metabolismo corporal é excretada na urina, ao passo que o restante, secretado no trato gastrointestinal, sofre reciclagem através de degradação pela urease microbiana intestinal8,9. Esta ação da urease permite que 20-50% do nitrogênio da uréia hidrolizada em amônia seja reciclado e retorne ao organismo sob a forma de aminoácidos, enquanto 50-80% retorna como uréia via ureiagênese.10,11. A proporção de nitrogênio não-protéico reciclado é inversamente proporcional ao consumo de nitrogênio protéico, ou seja, quanto menos proteína na dieta, tanto mais eficiente é o processo de reciclagem do nitrogênio não-protéico12,13. Mas, somente se atinge o equilíbrio do balanço nitrogenado ou ele se torna positivo quando o N não-protéico é oferecido em quantidade suficientemente alta14.

Em estudos com leite materno, o qual contém 20-25% de N não-protéico, dentre uréia, ácido úrico e creatinina, observou-se uma taxa de retenção de até 60% para o 15N da uréia.3,15
Em adultos, estudos demonstram um aproveitamento fisiológico da uréia total por volta de 25-40%, dependendo, dentre outros fatores, do perfil dietético, presença de doença concomitante, fase de crescimento e adaptação microbiológica2,8,9,10,16,17.
Dessa porcentagem, encontrou-se um reaproveitamento do N de até mais de 80% na síntese de novos aminoácidos 14. São evidenciados não somente um aumento da glutamina, como também, em ordem decrescente, de: arginina, alanina, glicina serina e outros18.
Ainda nesse sentido, os rins são órgãos que muito contribuem para essa reciclagem, adicionando amônia ao organismo. Apenas 30% da produção renal de amônia é liberada na urina, sendo os restantes 70% liberados na veia renal19.
Produção de aminoácidos indispensáveis pela microbiota intestinal
A uréia é normalmente secretada no trato digestivo pela saliva, pela bile e suco gástrico, mas também difunde-se livremente da circulação para dentro do estômago e intestinos (secreção transluminal), sendo o cólon, embora menos que o delgado, também permeável a ela.13,20,21 Mas a maior parte da uréia é proveniente da bile e suco pancreático. A secreção transluminal também parece ser maior no jejuno que no íleo, restando pouca uréia ao se entrar no ceco2. Dados demonstram, por exemplo, que apenas 8% da uréia plasmática foram provenientes do N da amônia fecal (cólon), sendo a grande parte do intestino delgado.22
É classicamente aceito que a maior parte da população microbiana é encontrada no intestino grosso e que o maior local de absorção dos aminoácidos é o intestino delgado. Isso é verdade, mas o intestino delgado não é o único local de absorção de aminoácidos nem a atividade microbiana está confinada ao intestino grosso23. Por isso supunha-se que as proteínas microbianas não seriam capazes de, tal como nos ruminantes, exercer algum papel funcional nos não-ruminantes.
Alguma absorção de aminoácidos ocorre no intestino grosso,19 mas parece mais provável de estar ocorrendo mesmo no intestino delgado24 conquanto muita atividade micro-biológica ocorre aí,21 pela grande quantidade de uréia secretada no início do intestino delgado, chegando a se encontrar para o íleo uma taxa de metabolismo de 38% da uréia total3.

Estudos em animais19,24,25 e em humanos 8,17,18, 26, 27,28,29 têm demonstrado o aparecimento de nitrogênio marcado em aminoácidos indispensáveis tais como: arginina, valina, leucina, fenilalanina, lisina, histidina e treonina. Por exemplo, apesar da produção de treonina ser uma das mais baixas de todos os aminoácidos marcados com 15N, mesmo com as estimativas das necessidades mínimas estarem em questionamento,30 ela mostrou-se ser de 3 a 7 vezes maior do que o requerimento padrão internacional para humanos adultos aceito hoje.31
Uréia ® (microflora) ® amônia ® (macroorganismo) ®
® aa. dispensáveis ® (microflora) ® aa. indispensáveis

Também parece que microflora não se utiliza somente do N amoniacal proveniente da quebra da uréia, mas preferencialmente após ter sido reciclado através da síntese de aminoácidos dispensáveis, principalmente no fígado, e retornados ao intestino delgado em secreções endógenas ricas em proteínas, para então ser reutilizado pela microflora2, 32 na síntese dos aminoácidos indispensáveis, que serão por fim absorvidos e utilizados na síntese protéica. Desta forma os microorganismos encontrariam os esqueletos aminoácidos já melhor definidos.

Subestimativa do reaproveitamento

Sabe-se que ainda que as evidências estejam se acumulando a favor dessa reciclagem sabemos que essas estimativas sofrem grandes distorções, provavelmente para menos. As medidas são realizadas em aminoácidos marcados com 15N no plasma, por sua fácil acessibilidade, sendo desprezados os aminoácidos intracelulares e intersticiais. As vias metabólicas pelas quais os aminoácidos são formados são intracelulares, sendo portanto, a concentração destes (particularmente glutamina e alanina, que são os maiores produtos da incorporação nitrogenada) maior dentro das células do que no plasma33.
Adiciona-se a essa grave distorção outra, não menos importante. Os novos aminoácidos sintetizados, marcados com 15N, podem estar sendo incorporados a proteínas ao invés de permanecerem no plasma, fugindo da busca da incorporação nitrogenada29.
Conclusão

Esses dados demonstram que essa capacidade de reciclagem tão bem estudada nos ruminantes existe também nos humanos, e que tem se mostrado ser fisiológica e quem sabe até mesmo necessária, haja visto que a uréia representa ≈15% do nitrogênio já no leite materno.
Devido ao fato de ser a uréia a principal forma final de catabolismo do N, esse processo de recuperação e reciclagem do Nuréico deverá ter um impacto considerável não só no balanço nitrogenado de todo o organismo, mas também nas funções metabólicas específicas que esses aminoácidos desempenham no corpo.
Belo Horizonte, 28 de abril de 2001.

Estudos sobre Urinoterapia II: IMUNONUTRIÇÃO

Álvaro C. A. Braz

Estudos realizados com nitrogênio marcado de constituição inorgânica, particularmente uréia e amônia, vêm evidenciando a incorporação deste a aminoácidos endógenos e microbianos na corrente sanguínea, com conseqüente incremento no aporte protéico do organismo.
Recentes estudos relacionam os aminoácidos glutamina, glicina e arginina a funções metabólicas essenciais dentro do sistema imunológico. E são esses justamente os aminoácidos de maior produção no processo de reciclagem do nitrogênio não-protéico. O que se segue é a descrição do que se sabe até então desses processos dentro da hipótese que une urinoterapia e imunonutrição.
Í N D I C E

IMUNONUTRIÇÃO
INTRODUÇÃO
SÍNTESE ENDÓGENA DE AMINOÁCIDOS
GLUTAMINA
• PRODUÇÃO ENDÓGENA E METABOLISMO DA GLUTAMINA
- Síntese via incorporação de amônia ao glutamato
- Glutamina: pivô da economia do nitrogênio
• GLUTAMINA E O SISTEMA IMUNOLÓGICO
- Glutamina como substrato específico do sistema imune
- Glutamina e a preservação da barreira intestinal
- Demanda aumentada torna glutamina essencial
- Suplementação clínica de glutamina
ARGININA
• PRODUÇÃO ENDÓGENA E METABOLISMO DA ARGININA
- Síntese de arginina via ciclo da uréia
- Função da arginina na economia metabólica
• ARGININA E O SISTEMA IMUNE
GLICINA
• PRODUÇÃO ENDÓGENA E METABOLISMO DA GLICINA
- O novo imunonutriente anti-inflamatório
• GLICINA E O SISTEMA IMUNE
- Canais de cloro dependentes de glicina em leucócitos
- Glicina e cancer
CONCLUSÃO
Referências

INTRODUÇÃO

SÍNTESE ENDÓGENA DE AMINOÁCIDOS

Com a reintrodução de quantidades adicionais de uréia e amônia da urina via oral, somadas à amônia proveniente do ciclo endógeno intestinal,[i] grandes quantidades de amônia alcançam a veia portal, onde chegam ao fígado. Este órgão tem um papel central de remoção desta amônia portal, através de duas vias.[ii] A primeira promove a resíntese da uréia e a segunda através da síntese de glutamina. Na verdade,
observa-se não somente um aumento dessas duas substâncias, mas também de vários outros aminoácidos,[iii],[iv] que aqui consideraremos em separado pelas fundamentais e interessantes
particularidades de cada um desses aminoácidos especialmente a arginina, o glutamato/glutamina e a glicina, que dividem entre si importantes papéis dentro do sistema imunológico.

GLUTAMINA - PRODUÇÃO ENDÓGENA E METABOLISMO DA GLUTAMINA

Síntese via incorporação de amônia ao glutamato

O aminoácido glutamina é sintetizado pelos seres superiores a partir da enzima glutamina sintetase que incorpora amônia ao precussor glutamato, cuja reação é:
L-glutamato + NH3 + ATP Õ L-glutamina + ADP + Pi
A retirada da amônia proveniente dos intestinos é realizada basicamente no fígado,[v], onde os dois principais sistemas detoxificadores estão dispostos anatomicamente um após o outro no ácino hepático. Hepatócitos da zona periportal (próximos da entrada sinusoidal), ricos em glutaminase, são responsáveis pela síntese de uréia através de um sistema de baixa afinidade, mas de alta capacidade. A amônia que daí escapa é capturada, logo à frente, por um sistema metabólico de baixa capacidade, mas de alta afinidade, nos hepatócitos perivenosos (junto à saída sinusoidal), ricos em glutamina sintetase, para síntese de glutamina.
A glutamina sintetase é encontrada juntamente com a glutaminase em quase todos os tecidos, mas em diferentes concentrações,[vi] determinando diversos perfis de captação e liberação de glutamina nos diversos órgãos. (Vide tabela 1).
Os músculos esqueléticos são, por sua massa avantajada, os grandes produtores/doadores, seguidos de pulmões, tecido adiposo, pele, coração e cérebro. Entre os grandes consumidores está a área esplâncnica (intestinos, baço e pâncreas), rins e o sistema imune, por sua intensa reposição celular.[vii]
O fígado, por possuir uma arquitetura metabólica heterogênea ímpar, que contém as duas vias metabólicas,[viii] em dois subgrupos celulares distintos no mesmo ácino, confere a esse órgão um papel regulador único, que produz ou capta glutamina conforme a momento fisiológico.
Tabela 1: qualidades metabólicas dos principais órgãos quanto à glutamina[ix]
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Doadores de glutamina (alta atividade de glutamina sintetase) síntese de glutamina
Músculo esquelético
Pulmões
Tec. adiposo
Regulador de glutamina (alta atividade de glutamina sintetase e glutaminase)
Fígado
Consumidores de glutamina (alta atividade de glutaminase)
Intestinos
Rins
S. Imunológico
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Glutamina: pivô da economia do nitrogênio

A glutamina tem sido classificada há muito tempo como aminoácido não essencial ou nutricionalmente dispensável por ser sintetizada endogenamente de outros aminoácidos e precursores em quantidades adequadas.[x] Mas esta visão da glutamina como nutriente dispensável contradiz sua importância qualitativa e quantitativa no metabolismo dos mamíferos. Além de seu papel como unidade estrutural das proteínas, a glutamina é um aminoácido com propriedades fisiológicas e bioquímicas únicas. É o aminoácido mais abundante do sangue, compondo de 30 a 35% do nitrogênio dos aminoácidos livres do sangue (500-900 µM). Em certas condições a glutamina compõe mais de 80% de todo o nitrogênio aminoácido transportado no sangue.[xi] Como contêm dois grupos nitrogenados prontamente disponíveis, um nitrogênio a-amino e um nitrogênio amida, ela é, quantitativamente, o mais importante carreador não-tóxico de nitrogênio[xii] e de esqueletos de carbono[xiii] entre os diversos órgãos do organismo.[xiv]

Há uma notável diferença no gradiente de concentração entre as membranas plasmáticas de diversos tecidos tal que a glutamina também é o mais importante componente das reservas de aminoácidos intracelulares. No músculo esquelético humano, por exemplo, principal órgão de síntese e armazenamento, onde a concentração da glutamina é 30 vezes a do plasma, ela compõe mais de 60% de toda reserva de aminoácidos livres.[xv] Desde que o músculo estriado contém em média a metade de todos os aminoácidos livres do corpo torna-se aparente a importância quantitativa deste aminoácido, o que faz da glutamina o aminoácido mais abundante de todo o corpo, constituindo mais de 60% de todo o nitrogênio do organismo.
Além de sua importância como carreadora e armazenadora de carbono e nitrogênio, a glutamina tem também importância central em inúmeras vias metabólicas.[xvi] É um precursor essencial para a biossíntese dos ácidos nucléicos[xvii] de todas as células, sendo também o maior substrato da amoniagênese renal[xviii] e intestinal tendo, portanto, um importante papel no equilíbrio ácido-básico.[xix] Tem um papel central no metabolismo dos carboidratos como precussora da síntese de glicogênio,[xx] de proteínas[xxi],[xxii],[xxiii],[xxiv] e na inibição da degradação protéica.[xxv] E tem também importância fundamental como substrato indispensável para as células de rápida proliferação, tais como as células da mucosa intestinal[xxvi] e de muitas outras, como por exemplo, células endoteliais[xxvii] e tubulares renais[xxviii], fibroblastos[xxix], células tumorais[xxx],[xxxi] e as do sistema imunitário.7

GLUTAMINA E O SISTEMA IMUNOLÓGICO

Glutamina como substrato específico do sistema imune

Linfócitos,[xxxii],[xxxiii] macrófagos,[xxxiv] neutrófilos[xxxv] e provavelmente todas as células do sistema imunológico[xxxvi] dependem da glutamina como fonte primária de energia. Evidências recentes demonstram que a taxa de utilização de glutamina por essas células é similar ou mesmo maior que a de glicose e que nenhuma das duas é completamente oxidada totalmente para fonte de energia, sendo ambas quase totalmente utilizadas para síntese de biomoléculas imunoativas e nucleotídeos para replicação celular.[xxxvii] Uma alta taxa de captação de glutamina é característica dessas células proliferativas para síntese dessas moléculas chave, como glutadiona[xxxviii] e ácidos nucléicos, mesmo em condições de quiescência imunológica. Na ausência de glutamina, linfócitos não proliferam in vitro e, por outro lado, a proliferação aumenta bastante com o aumento da concentração da glutamina.[xxxix]
A presença de células tumorais em ratos promove um aumento da atividade da glutaminase em órgãos linfóides e em linfócitos e macrófagos isolados.[xl] A utilização da glutamina também tem sido relacionada com a produção de superóxido e interleucina-1 e -6 por macrófagos[xli] e de interleucina-2 por linfócitos.[xlii] Linfócitos têm grande capacidade proliferativa, além de síntese de imunoglobulinas, enquanto macrófagos e neutrófilos, células terminalmente diferenciadas e com pouca capacidade proliferativa, além da atividade secretória, têm uma grande capacidade fagocítica, requerindo uma elevada taxa de síntese e reposição lipídica[xliii] para adequada manutenção da membrana. Há evidências de que essas células, principalmente os macrófagos, sintetizam lipídios do piruvato oriundo do metabolismo da glutamina.[xliv],[xlv] De fato, há um estudo demonstrando que os lipídios participam ativamente da regulação da função imune.[xlvi]

Recentes estudos in vitro[xlvii],[xlviii],[xlix] e em animais[l],[li] têm demonstrado que a glutamina pode realmente aumentar a função bactericida dos neutrófilos, que são os fagócitos primariamente envolvidos na eliminação das bactérias invasoras, aumentando sua capacidade fagocítica e produtora de metabólitos reativos do oxigênio. Eles capturam as bactérias opsonizadas, as fagocitam e então as destróem com proteínas não-oxidativas em combinação com produtos intermediários reativos do oxigênio, que são o super-óxido (O2-), o peróxido de hidrogênio ou água oxigenada (H2O2) e o hipoclorito (OCl-).[lii] Também a fagocitose mediada por macrófagos é influenciada pela disponibilidade de glutamina;[liii] aumenta a atividade das células NK,[liv] estimula a produção de IgA no intestino,[lv] de interferon-g e do fator de necrose tumoral.[lvi],[lvii]

Glutamina e a preservação da barreira intestinal

Os enterócitos estão entre as células que mais consomem glutamina,[lviii],[lix] devido a rápida proliferação que sua função exige, pois além de ser um órgão de digestão e absorção, os intestinos são uma barreira contra patógenos invasores e moléculas nocivas. O fenômeno das bactérias e suas endotoxinas atravessarem a barreira mucosa intestinal íntegra e invadirem o tecido extraintestinal (nódulos linfáticos mesentéricos, fígado, baço, cavidade peritoneal, sangue e circulação linfática) tem sido chamado de translocação bacteriana.[lx],[lxi] A defesa do trato gastrointestinal parece involver dois componentes.[lxii] O primeiro é uma barreira mecânica e química que inclui um pH ácido no estômago, junções epiteliais apertadas (tight juntions), uma camada de muco que cobre o epitélio e a microflora intestinal indígena. O segundo componente de defesa é o tecido intestinal linfóide (TIL). O processamento de antígenos no TLI é parte de um elaborado sistema que promove a secreção de IgA antígeno-específica para dentro da luz intestinal. É importante frisar que a barreira intestinal funciona em camadas, e mesmo a atividade secretória é um processo que envolve três níveis.[lxiii] (Vide tabela 2).

Tabela 2: Níveis de defesa da barreira intestinal
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Mecanismos imunes inatos locais
Acidez gástrica
Efeito limpante da motilidade intestinal
Eventos digestivos intraluminais
Camada de muco aderida ao epitélio
Junções intercelulares apertadas entre enterócitos
Rápida proliferação dos enterócitos rumo ao lúmem
Mecanismos imunes adaptáveis (Tecido Linfóide Intest.)
Apresentação de antígenos
Respostas dos linfócitos T
Produção das imunoglobulinas secretoras
Mecanismos sistêmicos
Refinamento dos mecanismos imunes adaptáveis
Atividade macrofágica
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Adaptado de Hall et al.9

Por razões ainda não completamente compreendidas, a eficácia da barreira intestinal pode se comprometer como consequência de uma série de agravos locais e sistêmicos. (Vide tabela 3).

Tabela 3: Agravos intestinais associados ao aumento da translocação bacteriana
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Sistêmicos Locais
Subnutrição Radiação
Choque
Quimioterapia
Sepsis
Inflamação
Queimaduras Diarréia
grave
Trauma grave Infecção
Cancer avançado Antibióticos
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Adaptado de Souba et al.[lxiv]

Esses agravos atuam sinergisticamente, levando à atrofia das microvilosidades, aumento da permeabilidade intestinal e da translocação das bactérias luminais e suas toxinas. A invasão por bactérias intestinais provoca uma resposta sistêmica de hipermetabolismo e hipercatabolismo que caracterizam a septicemia e que, se persistente, leva a falência múltipla de órgãos.

Hoje há uma sólida evidência de que a glutamina tem um papel fundamental na manutenção do metabolismo, estrutura e função intestinais. Em modelos animais com enterocolite ficou demonstrado que a suplementação de glutamina prolonga a sobrevivência desses animais e diminui a gravidade da inflamação da mucosa.[lxv] Outros, em modelos animais com enterocolite por irradiação, demonstraram que a glutamina não apenas promove a recomposição da mucosa agredida e diminui a subsequente translocação bacteriana, mas também estimula os linfócitos locais a melhor eliminarem as bactérias dos nódulos linfáticos.[lxvi],[lxvii]
Demanda aumentada torna glutamina essencial

Obviamente, essa demanda por glutamina já alta em quiescência imunológica aumenta inúmeras vezes quando o sistema imune, frente a algum desafio, é ativado. A ativação mitogênica de linfócitos aumenta tanto a atividade da glutaminase quanto a utilização de glutamina.22

De fato, sabe-se que as concentrações plasmáticas e teciduais da glutamina não são apenas altas, mas são também bastante lábeis. Os níveis plasmáticos de glutamina declinam rápida e profundamente no decurso de inúmeros estados catabólicos como cirurgias, queimaduras, sepsis, cancer e outras doenças sistêmicas.[lxviii],[lxix] Durante stress catabólico a concentração intracelular da glutamina pode cair mais de 50% e os níveis plasmáticos mais de 30%,[lxx] tendo sido observado diminuição de até 85% em pacientes com pancreatite necro-hemorrágica,[lxxi] evidenciando que em tais condições a demanda de glutamina pode exceder a capacidade do organismo de sintetizá-la. Essa queda nas concentrações de glutamina é maior do que em qualquer outro aminoácido e corresponde, em geral, com a severidade da doença de base, retornando aos níveis normais, com certa dificuldade, apenas ao final da convalecença.[lxxii]

Foram então descritos, após investigações das bases fisiológicas de tais alterações,[lxxiii],[lxxiv] efeitos anabólicos oriundos do fornecimento de glutamina em modelos animais[lxxv], [lxxvi], [lxxvii] e em humanos.[lxxviii],[lxxix] A partir de então, ficou evidente que a classificação da glutamina como aminoácido não-essencial poderia estar incorreta, resultando, no início da década de 90, na proposta de reclassificação da glutamina como sendo aminoácido condicionalmente essencial.18.[lxxx] De fato, em estados patológicos associados a queda da concentração da glutamina a função imuno-lógica geralmente se encontra deprimida.[lxxxi],[lxxxii]

Suplementação clínica de glutamina

A suplementação de glutamina exógena tem mostrado restaurar os níveis plasmáticos e melhorar a função imune. Num estudo prospectivo, randomizado e duplo-cego, os pacientes imunossuprimidos (por irradiação e quimio-terapia) que receberam glutamina antes do transplante medular tiveram significativamente menos contaminação bacteriana e infecção que o grupo controle,[lxxxiii] o que foi associado a uma mais rápida maturação dos linfócitos T nos que receberam glutamina.[lxxxiv] Num outro estudo em pacientes pós-operados, a resposta proliferativa dos lifócitos T aumentou com a administração de glutamina parenteral.[lxxxv] Ainda com suplementação endo-venosa demonstrou-se melhora na sobrevivência em pacientes graves acompanhados durante 6 meses[lxxxvi] e melhora no balanço nitrogenado pós-operatório, aumento do número dos linfócitos periféricos, aumento da produção de leucotrienos pelos neutrófilos e encurtamento do pós-operatório.[lxxxvii] Outro estudo, desta vez com suplementação enteral, demonstrou que a glutamina reduziu significativamente a incidência de pneumonia, bacteremia e sepsis em pacientes politraumatizados.[lxxxviii]

ARGININA - PRODUÇÃO ENDÓGENA E METABOLISMO DA ARGININA
Síntese de arginina via ciclo da uréia

A arginina é um aminoácido que só se torna dispensável após a fase de crescimento e também é muito utilizado pelo sistema imunológico. Apresenta ainda um papel crucial nos mecanismos de cicatrização e regeneração tecidual.
A principal fonte de arginina nos mamíferos é o ciclo da uréia. Importante circuito de detoxificação, o ciclo da uréia funciona não apenas para facilitar a excreção do nitrogênio via síntese de uréia mas também para aumentar a oferta endógena de arginina.
Função da arginina na economia metabólica

A arginina ocupa um lugar único na nutrição humana devido a sua ampla gama de atividades biológicas. Estudos nos últimos 40 anos têm demonstrado que a arginina detêm importantes funções metabólicas e imunológicas, especialmente durante condições de estresse, como por exemplo, em infecções.[lxxxix],[xc] Estes trabalhos acabaram por trazer a proposição de que a arginina seja, tal como a glutamina, reclassificada como um aminoácido "condicionalmente essencial",[xci] pois apresenta, em condições de hipermetabolismo, demanda maior que a oferta.
A arginina tem um papel central na síntese da uréia e das proteínas, de elementos de alta energia, como a creatina, das poliaminas e do óxido nítrico (NO).[xcii] Quando administrada em doses farmacológicas tem demostrado promover a cicatrização aumentando a produção de colágeno, estimula a secreção hormonal de inúmeras glândulas endócrinas, regula o crescimento de certos tipos tumorais e potencia as respostas celulares do sistema imune.[xciii]

ARGININA E O SISTEMA IMUNE

A sugestão de que o aminoácido arginina teria um efeito imunonutriente aparece na segunda metade da década de setenta quando observa-se sua capacidade imunoestimulatória em animais,[xciv] e que ela tornava-se essencial na dieta para a manutenção do peso corporal, adequado processo de cicatrização e sobrevivência de ratos submetidos a injúria.[xcv],[xcvi] Crescente evidência de que o trauma e outras injúrias, incluindo sepsis, provocavam alterações nas concentrações intra e extra-celulares de certos aminoácidos[xcvii] sugeriram que as necessidades dietéticas de certos aminoácidos poderiam variar nessas condições e que a administração destes aminoácidos poderia modificar favoravelmente as respostas metabólicas e fisiológicas a tais injúrias,[xcviii] provavelmente com envolvimento concomitante do eixo hipotalâmico-hipofisário.[xcix] Desde então a habilidade em reduzir o crescimento e a disseminação de tumores como consequência de efeitos imunoestimulantes torna-se cada vez mais clara em modelos animais[c],[ci],[cii],[ciii] e em humanos.[civ],[cv]

Confirma-se então a ação da arginina ativando linfócitos,[cvi] neutrófilos[cvii] e macrófagos.[cviii]

Duas vias metabólicas foram identificadas como as responsáveis pelas ações imunomodulatórias da arginina. A primeira via é através da enzima arginase, cujo produto final são as poliaminas, fundamentais para replicação do DNA e proliferação celular.[cix] E a segunda via envolve uma família de enzimas conhecidas como NO sintetases, que produzem grandes quantidades de NO.[cx] Apesar de não exatamente elucidado seu papel dentro da imunidade inespecífica, sabe-se que o NO parece inibir a síntese de DNA e consequente divisão das células indesejadas[cxi]. Ele é secretado em altos níveis por macrófagos ativados e neutrófilos, formando em combinação com o oxigênio, intermediários altamente reativos, como o radical hidroxila (OH), o dióxido de nitrogênio (ONOO-) e outros compostos nítricos ou nitrosos, que atuam como agentes endógenos antimicrobianos.[cxii]

Inúmeros estudos clínicos vêm avaliando a eficácia da arginina em intensificar os mecanismos imunológicos durante infecções em queimados,[cxiii] em cancerosos,[cxiv] em imunodeprimidos[cxv] e em operados/traumatizados,[cxvi],[cxvii] constatando-se os melhores resultados no último grupo.

GLICINA - PRODUÇÃO ENDÓGENA E METABOLISMO DA GLICINA
O novo imunonutriente anti-inflamatório

A glicina pode ser produzida através de um intermediário da glicólise, com subsequente conversão do aminoácido serina ou, no fígado, pela ação da enzima glicina sintetase, que incorpora uma molécula de amônia, ajudando na detoxificação desta do organismo. (Rever Lehninger)

A glicina aumenta a sobrevivência de ratos ao choque endotoxêmico.[cxviii] Atua também minimizando as lesões hepáticas induzidas pelo álcool, in vivo, ao diminuir o etanol que atinge o fígado acelerando o primeiro passo do metabolismo deste no estômago[cxix] e melhora a convalecença da hepatite alcoólica[cxx] e a sobrevivência em transplantes hepáticos.[cxxi] Diminui a fibrose causada por drogas experimentais, prevenindo danos hepáticos[cxxii] e a proliferação celular hepática induzida por químicos.[cxxiii]
Nesse sentido, a glicina inibe o crescimento de tumores provocados pelo implante de células de melanoma em modelo animal.[cxxiv] Nos rins reduz a nefrotoxicidade da ciclosporina A[cxxv] e previne a hipóxia e a formação de radicais livres.[cxxvi]

GLICINA E O SISTEMA IMUNE
Canais de cloro dependentes de glicina em leucócitos

A maioria das ações da glicina se devem ao bloqueio do canal de cloro ligado à glicina, recentemente descrito nas células Kupffer[cxxvii] e que parece ser comum a todas as populações de leucócitos.[cxxviii]
Devido a essa ubiquidade do canal de cloro glicina-dependente, a glicina tem sido relacionada a funções imunoregulatórias, que variam de atividades antitumorais a imunossupresivas, sendo sugerido sua aplicação clínica em alguns casos que, de acordo com as evidências experimentais, variam de septicemias a endotoxemias, síndrome do desconforto respiratório a asma e como coadjuvante em transplantes e em casos oncológicos.[cxxix]

Glicina e cancer

Estudo em camundongos com implantação de células tumorais (melanoma B16) evidenciou diferença significativa no crescimento dos tumores. Naqueles alimentados com dieta composta de 5% de glicina e 15% de caseína, contra os 20% de caseína do grupo controle, os tumores pesavam 65% menos, principalmente após 14 dias de acompanhamento, sugerindo que a glicina teria um papel fundamental na inibição da angiogênese e vascularização tumoral. De fato, a glicina inibe o crescimento das células endoteliais in vitro, apoiando a hipótese de que a glicina inibiria o crescimento tumoral in vivo através de mecanismos envolvendo o controle da proliferação endotelial.121, 126

CONCLUSÃO

O metabolismo do nitrogênio dentro do trato gastrointestinal envolve complexos ciclos entre a circulação sistêmica, a mucosa e as reservas intraluminais de proteínas, aminoácidos e outros materiais nitrogenados de origem dietética e endógena.

Interpõe-se a tudo isso a microflora intestinal, com suas reservas microbianas de N e suas próprias necessidades nutricionais satisfeitas através da degradação de substâncias alimentares e endógenas. Dentre os substratos para o crescimento bacteriano inclue-se a uréia, desde que a população bacteriana contenha urease, permitindo que a uréia que adentra o lúmem intestinal seja degradada e forneça N (na forma de amônia) para a síntese microbiana de aminoácidos e de proteínas, ou para síntese endógena de amino-ácidos. Mas, apesar de se saber que essa reciclagem influência a composição dos aminoácidos e portanto a qualidade da proteína disponível para atender as diversas exigências nutricionais, não se sabe exatamente qual a real contribuição nutricional que para o organismo hospedeiro teria o reaproveitamento desse N inorgânico,[cxxx] ainda mais ao considerar-se a ingestão de quantidades extras advindas da urina.

Em pessoas com uma dieta normal, aproximadamente três quartos da uréia produzida é excretada na urina. O outro quarto adentra o aparelho digestivo através das secreções fisiológicas e sofre hidrólise pela microflora intestinal, com o nitrogênio sendo disponibilizado para posterior interação metabólica.[cxxxi] Entretanto, como acontece grande variabilidade interindividual dentro do metabolismo protéico, o mesmo se encontra à respeito da cinética da uréia, considerando-se, em geral, um coeficiente de variação de ≈ 35% para a produção e a excreção da uréia.[cxxxii] Com relação à quantificação dos aminoácidos produzidos à partir dessa fração retida do N inorgânico (≈ 25%), os poucos trabalhos existentes apontam, interes-santemente, para uma maior produção de glutamina (≈ 48%) e arginina (≈ 40%), e logo a seguir glicina (≈ 4%).3,4 Esses dados sobre síntese e a importância metabólica desses aminoácidos formados à partir de algumas das mais abundantes substâncias nitrogenadas não-protéicas da urina (uréia e amônia), explicariam algumas respostas favoráveis da urina via oral observadas em nossa prática médica como a uma significativa melhora da função imune.

Uma primeira observação prática que se faz é que a urina seguinte àquela que foi ingerida contém menos uréia que a urina que foi ingerida pois ela sai menos concentrada. E daí por diante até chegarmos, após algumas reingestões, a uma urina clara e completamente inodora, ou seja, sem solutos.

Esses dados nos dispõem que há uma retenção dos sólidos da urina, e obviamente o fazemos, somente porque temos uma flora intestinal com o aparato enzimático certo.

Outro dado significativo diz respeito ao grande bem-estar que advém da prática de se reaproveitar a urina. Se fosse atividade danosa ao corpo ou atentado contra a própria saúde, deveríamos apresentar quadros intoxicativos progressivos - uremia. Mas o que vemos é o contrário. Ocorre melhora do ânimo e do humor, sensível melhora da qualidade do sono e melhor resistência imunológica, por prontas respostas a inúmeras doenças, de infecções a quadros degenerativos.

Mas, infelizmente, não temos tido condições, ainda, de aprofundar, através de um protocolo de pesquisa próprio, tão importantes conjecturas. Um ensaio duplo cego randomizado, muito provavelmente, já podemos descartar, pois um placebo que imite identicamente o sabor característico e complexo da urina estaria fora de cogitação. Esperamos, em futuro não muito distante, poder apresentar dados clínicos ordenados que melhor disponham sobre o que temos dito da urinoterapia. Com certeza, há muito para se fazer.

Perguntas e Respostas sobre Urinoterapia

1. A própria urina é a única que se pode usar?

A urina da própria pessoa é a melhor pois ela é um holograma (do gr. holos, que significa inteiro, completo) do nosso organismo, contendo informações de cada célula do corpo. Como é essa a urina que contém toda a informação concernente à própria pessoa é somente com as informações atualizadas provenientes desse líquido holográfico que o sistema imunológico poderá atuar satisfatoriamente contra alguma patologia ou injúria. Mas em casos onde a inconsciência ou imobilidade, como numa mordedura por cobra; ou onde não há urina, como nas insuficiências renais; ou em dificuldade de coleta, como em idosos e crianças muito novas, sem controle do esfíncter, que usam fraldas, recomenda-se então a urina de parentes próximos, de preferência do mesmo sexo. Alguns casais usam um pouco da urina um do outro.

2. Pode-se misturar algo à urina para torná-la mais palatável?
No início algumas pessoas estranham e podem lançar mão de misturar a urina com algo para "ajudar". Pode-se usar suco de frutas, chás medicinais ou somente água. As bactérias responsáveis pela transformação da uréia em amônia e que a transforma em aminoácidos o fazem melhor quando na presença de glicose. Provavelmente a vitamina C, que participa de outros processos absortivos e de síntese, também incrementa esse processo, por isso as frutas, misturadas com a urina ou depois, são a melhor pedida.

3. Existe alguma contra-indicação para a Urinoterapia (UT)?
Não se tem notícia de qualquer caso onde a própria urina tenha causado dano ou tenha intoxicado a pessoa. O que acontece em aproximadamente um terço dos casos, e aqui é fundamental que se faça a diferença, é um processo de exoneração de matérias mórbidas ou tecidos doentes, chamado de "crise de cura". A urina funciona homeopaticamente como um poderoso nosódio, estimulando as defesas próprias do organismo. Em alguns casos ocorre uma crise curativa muito intensa, com intensificação de sintomas pré-existentes, mas que, com a continuação da terapia, apresentam agora uma definição resolutiva, desaparecendo, ou reaparecendo, conforme a severidade da doença de base. Na verdade o que costuma acontecer é um reaparecimento dos velhos sintomas e doenças, de maneira retrógrada, mas só que com uma intensidade bem menor do que quando nos afligiram de fato. Quando ocorrerem crises curativas muito intensas basta diminuir ou mesmo interromper temporariamente o uso da urina. Para o uso concomitante de outras substâncias, como medicamento alopáticos ver a próxima questão.
4. E quando a pessoa faz uso de medicamento alopáticos até mesmo de uso controlado?
Cada caso deve ser avaliado individualmente, pois há drogas que produzem metabólitos ativos e sua reingestão implica em potenciação dos efeitos destas. De uma maneira geral, nesses casos, com o início concomitante da UT, é muito comum o aparecimento de sinais e sintomas advindos de superdosagem medicamentosa por reciclagem das drogas previamente utilizadas. Daí ser adequado um acompanhamento para paulatinamente se diminuir as doses desses medicamentos.

5. E as 'toxinas' da urina?
Basicamente há dois grandes grupos de substâncias a que chama-se 'toxinas'. No primeiro estão os produtos do metabolismo do nitrogênio no nosso corpo, que são, os principais: a uréia, a amônia, o ácido úrico e a creatinina; substâncias essas que em excesso no sangue são tóxicas. Essas substâncias nitrogenadas não-protéicas, ao serem ingeridas, são recicladas através da ajuda da microflora intestinal, conseguindo agora disponibilizar esse nitrogênio, antes inacessível ao nosso metabolismo, para a síntese de novas proteínas. (Vide artigo "Urinoterapia: uma prática fisiológica?"). Na verdade, o que acontece é que esse novo nitrogênio parece ser, na sua maior parte, usado na síntese endógena de aminoácidos imunonutrientes, o que explicaria boa parte do êxito dessa terapia. (Vide artigo "Estudos sobre Urinoterapia II: Imunonutrição."). Quanto ao segundo grupo de substâncias a conversa é outra. Esses são os petroquímicos e os metais pesados, ambos com propriedades cumulativas nos sistemas biológicos, ou seja, com o uso constante acumulam-se nos tecidos. Por serem substâncias lipotróficas, isto é, que se concentram nas gorduras, elas são essencialmente eliminadas através do órgão central do metabolismo lipídico - o fígado. Os rins participam basicamente do equilíbrio hidroeletrolítico e da filtração de substâncias hidrosolúveis enquanto o fígado elimina, através da bile, nas fezes, as substâncias tóxicas liposolúveis.

6. A urina não é suja e contaminada?
Exceto quando acometido o sistema renal por alguma infecção é que se encontrará microorganismos na urina. De uma maneira geral a urina é um líquido completamente estéril, ou seja, isento de qualquer microorganismo.

7. E quando houver infecção renal?
No caso de uma infecção renal ou das vias urinárias, a ingestão destes microorganismos presentes na urina, acredita-se, determinaria uma resposta imunológica específica contra a infecção, por um processo que se chama de auto-vacinação. Esse princípio é aplicável em todos os casos e doenças onde se ingere a própria urina. Nessa hipótese, os antígenos e mesmo microorganismos, seriam capturados por células especializadas da mucosa intestinal - as células M - e apresentadas ao sistema imunológico. Essas informações são então adequadamente codificadas e transformadas em ações imunes específicas, de acordo com o perfil antigênico presente na urina.

8. Qual a constituição da urina?
A urina é o filtrado glomerular do sangue, destituído de substâncias reabsorvidas depois da filtração pelos túbulos renais e adicionado de outras substâncias secretadas pelos rins. Contém de 95 a >99% de água e de <1 a 5% de solutos. Esses são assim geralmente distribuídos:

Solutos g/24 hs.
_____________________
Uréia 25
Amônia 0,8
Ác. Úrico 0,7
Creatinina 1,5
Creatina 0,8
Aminoácidos 0,8
Glicose < 0,05
H+ pH 5-8
Na+ 3,0
K+ 1,7
HPO42- 1,2 g P
SO42- 1,4 g S
Cl- 6,3
Mg2+ 0,15
Ca2+ 0,2

*Os dados apresentados são de uma amostra média de volume de 1200 ml em 24 hs.

A composição e o volume variam amplamente, dependendo da ingestão líquida e da dieta.
Possui ainda, em quantidades menores, num total de ±200 mg, inúmeras substâncias fisiologicamente ativas, na sua grande maioria peptídeos, com amplas ações em praticamente todos os órgãos do corpo, como alguns exemplos demonstram:

Uroquinase - enzima que tem a propriedade de dissolver coágulos sanguíneos, sendo usada terapeuticamente em casos de embolia cerebral e infarto do miocárdio;
Eritropoietina - peptídeo que estimula a produção de eritrócitos (glóbulos vermelhos);
Fator de proliferação tissular - aumenta a reposição celular em casos de lesões epiteliais;
Calicreína - hormônio peptídeo vasodilatador;
D.H.E.A. (deidroepiandrosterona) - hormônio precussor dos hormônios sexuais masculinos e femininos;
Melatonina - hormônio com atividade antidepressiva;
Antineoplastons - peptídeos que quando ativados pelo suco pancreático apresentam atividade anti-tumoral;
Hormônios suprarenais - com atividades anti-inflamatórias;
Todos os hormônios hipofisários.

E ainda: antígenos da membrana basal das células epiteliais e mesenquimais de todos os órgãos, antígenos plasmáticos e não plasmáticos oriundos de injúrias e patologias como os antígenos tumorais e antígenos próprios da degradação microbiana e substâncias produzidas pelas células infectadas.
E muitas outras substâncias ainda não identificadas.

9. Quando se iniciam os resultados da UT?
As doenças variam bastante entre os pacientes. Geralmente entre os mais jovens ou numa etapa inicial da doença se obtêm os melhores resultados. Entre os mais velhos ou em etapas mais avançadas da patologia, se necessita um tempo maior até o aparecimento de resultados.

10. Como, quando e quanto tomar de urina?
A primeira urina da manhã contêm preciosos hormônios que somente são produzidos à noite, durante o sono, como o hormônio do crescimento e a melatonina, sendo essa urina muito reputada entre os imunoterapistas. A maioria toma de 180 a 200 ml, o que corresponde a um copo pequeno por dia. Outros usam até mais, de 3 a 5 copos / dia, distribuídos ao longo do dia.

11. Como se usa a urina externamente?
Banhos tópicos propiciam uma absorção dos hormônios, sem que sofram processos digestivos no trato gastrointestinal, diretamente pela pele. O uso oftalmológico, com lava-olhos ou gotas, sempre com urina fresca, se consagrou especialmente nos casos das conjuntivites e na catarata. Boa reputação também no pterígeo. Afecções dermatológicas como micoses, escabiose e doenças de causas imunológicas, como a psoríase. Nas gengivites e lesões orais. Lavagem nasal, nas sinusites.

12. Quais são as principais mudanças que comumente ocorrem após o início da UT?
a. Melhoria do trânsito intestinal;
b. A pele melhora a cor, temperatura e textura;
c. Melhoria da circulação com aquecimento das extremidades;
d. Melhor qualidade do sono;
e. Cabelos e unhas crescem mais rápido e mais fortes.

Mas são as crises curativas as reações mais esperadas. A reação exonerativa mais comum é a diarréia, seguindo-se as reações dermatológicas (exantemas pruriginosos e furunculoses), os catarros respiratórios e outras como: febrículas, sonolência, cefaléias, contrações musculares e ptoses palpebrais, sendo todos esses sinais e sintomas temporários. Nesses momentos é importante não abandonar o tratamento, exceto em crises muito intensas, pois são reações passageiras. Normalmente sente-se progressivamente melhor, mesmo durante as reações. Nem todos os praticantes da UT apresentam as reações de cura e estas são muito variáveis para cada indivíduo e de acordo com a doença. A grande maioria as apresenta logo no início do tratamento e desaparecem em pouco tempo.

Nos casos graves podem ocorrer dois ou três períodos de crises curativas. Durante esses períodos alguns apresentam sintomas bastante fortes como aumento da dor ou reações cutâneas generalizadas, mas nunca se relatou choque anafilático. Nesses casos diminuir ou mesmo interromper por 1 ou 2 dias para então recomeçar em doses crescentes, o que seria a maneira ideal de se iniciar o uso da urina, evitando-se que essas reações apareçam repentina e intensamente. Com essa medida, o estímulo sobre o organismo será mais suave e se minimizaria as possíveis consequências severas.

13. Os hipertensos podem tomar a urina mesmo que ela esteja salgada?

Não. Uma urina muito salgada significa um excesso de sal na dieta ou um processo de eliminação do sal que se acumulou nos tecidos durante o período de ingestão excessiva. Normalmente, ao tomarmos nossa urina com frequência, tendemos a diminuir a ingesta de sal, justamente por esta reutilização do sal. Mas, de uma maneira geral, a urina contém potássio, o que contrabalança o efeito hipertensivo do sódio, além de enzimas que estão correlacionadas a processos de remoção de coágulos e placas ateromatosas e retorno da elasticidade arterial, com uma consequente diminuição da pressão arterial, de maneira mais definitiva. De uma maneira geral, porém, os hipertensos, ao depararem-se com a urina muito salgada, e isso é facilmente perceptível, devem desprezá-la e beber água pura, e somente tornar a utilizá-la quando estiver pouco salobra.

14. E durante a gravidez?

Nenhum problema em reciclar hormônios próprios desta época, produzidos pela placenta.

15. Como usar a urina nos olhos?
Sempre fresca e não muito concentrada. Dispensar o 1º jato, observar se não há qualquer infecção dos rins ou vias urinárias. Pinga-se uma a duas gotas, até 7-8 vezes por dia. Pode-se usar o lava-olhos.

16. Por quanto tempo devemos tomar a urina?
Certas coisas são como tomar banho ou escovar os dentes, ou você pretende parar de tomar banho algum dia?


Saudações urinárias!

Luís E. (61) 9104.5515, lesilva2001@yahoo.com.br